quarta-feira, 15 de abril de 2009

Qual o futuro dos jornais impressos?

O texto abaixo, na verdade um artigo, refere-se ao jornalismo como um todo e suas alterações no decorrer da convergência das mídias. Interessante como o autor explora a defasagem na leitura de jornais impressos e como estes devem reduzir de quantidade significativamente.

Analina Arouche



Marcos Troyjo*

Crise. Eis a palavra de ordem para jornais no mundo inteiro. Penúria, dificuldade. Momento, como sugeria Antonio Gramsci, em que o velho ainda não morreu e o novo tampouco nasceu.

Mas crise é também julgamento, exame, avaliação. E, nesse repensar, as perguntas: o que acontecerá com o jornalismo impresso? Qual o futuro da mídia? Vale começar, contudo, com o que está acontecendo agora; com o presente da mídia.

Esta conjuntura de 2009, em meio ao turbilhão que varre a economia global, é de um mundo em que:

- a maior empresa de mídia, o Google, não produz um único grama de conteúdo sequer;

- jornais comem poeira da TV, rádios, instant messengers e noticiosos on-line nos chamados "furos", cada vez mais raros - e, vale dizer, dispensáveis - na mídia impressa;

- na Wikipedia, a enciclopédia colaborativa on-line, há 12 vezes mais verbetes do que na Enciclopédia Britânica, com diferencial de erros desprezível;

- o The New York Times, maior marca de mídia impressa do planeta, perdeu 50% de sua circulação paga nos últimos cinco anos;

- o Clarín, jornal argentino, o maior da América Latina, não tem um assinante sequer;

- a redação do maior jornal de economia em espanhol, o Expansión, funciona numa laje de 120 mem Madri; - no Brasil, onde a densidade digital da sociedade ainda é relativamente baixa, a venda de celulares ultrapassa a de computadores, que por seu turno supera a de televisores;

- 1 em cada 4 indivíduos encontra-se plugado na internet;

- centros dinâmicos de empreendedorismo e conhecimento como Boston, Seattle e São Francisco estão perdendo seus tradicionais Globe, Post-Intelligencer e Chronicle. O Boston Globe, a propósito, comprado pelo Grupo NYT há 16 anos por US$ 1 bilhão, está à venda nesta semana por US$ 12 milhões.

A julgar por esse quadro, parece anacrônica a questão se os jornais um dia irão acabar. Com base no fracasso de modelos de negócios tradicionais, eles já acabaram.

Como explicar então o inegável fato de que as pessoas estão cada vez mais bem informadas, que nunca se consumiram doses tão abundantes de notícias, análises, opiniões; que nunca o jornalismo repercutiu tanto?

Além de apontar o óbvio paradoxo de que a disponibilidade da informação vem (fatalmente, para a imprensa) acompanhada de gratuidade, há que sublinhar: não é apenas a mídia (meios) que mudou, mas também a origem e os destinos da informação.

A origem, há um tempo restrita à redação de cada jornal, hoje está no universo de sites, agências de notícias, blogs, vlogs, universidades, nas empresas de qualquer ramo. Circula, enfim, no ciberespaço. O destino, na mesma medida, que segmentava, por mídia, o tipo de consumidor em suas várias formas (leitor, ouvinte, telespectador, internauta, etc.) condensa-se progressivamente graças à convergência tecnológica.

Daí surgir mesmo um novo profissional de mídia. Muito preparo e talento na comunicação via texto, som, vídeo. Distinto do profissional passivo, pautado, monomídia, apenas "jornalista".

Ele hoje tem de ser um publisher capaz de operar em várias plataformas e atento aos vários aspectos do "negócio", além do conteúdo. E, é claro, uma fixação com o aprimoramento constante que beira o "apenas os paranóicos sobrevivem", conforme o ensinamento de Andrew Grove, o fundador da Intel. Se ele for este profissional, então neste novo mundo ele é um sujeito de grande importância e alcance sempre.

O jornal escrevia para o leitor. A marca de mídia terá, contudo, de estar com o consumidor em toda dimensão de sua cidadania informacional.

Nos países da OCDE, por exemplo, onde são altos os índices de leitura e de alfabetização digital, o tempo médio diário de um leitor com o jornal na mão é de apenas 22 minutos. Fica, no entanto, com seu computador ligado durante 8 horas por dia; seu celular por 16 horas.

No Brasil, a situação não é muito diferente. No futuro breve, jornais diários de grande circulação serão quase que sinais de subdesenvolvimento ou atraso digital de um país. Não é de estranhar que nos EUA, em 2008, mais pessoas obtiveram suas notícias gratuitamente na internet do que em jornais ou revistas pelas quais tenham pago algum dinheiro. Será que nesse mundo faz algum sentido o lema "all the news that’s fit to print", do The New York Times?

Talvez aí esteja a chave para o futuro dos jornais. Deixarão de ser "newspapers" em mais de um sentido, já que são derrotados ingloriamente na corrida tecnológica da notícia e nos custos (econômicos e ambientais) do papel.

De modo crescente - e irreversível -, as notícias (news) vão para o digital, para o tempo real gratuito e, onde houver aprofundamento e exclusividade, para um modelo pago e portanto economicamente sustentável.

E o papel? Os jornais se tornarão "journals". "Diários", a bem dizer, não como algo impresso a cada dia, mas na dimensão quase afetiva do objeto físico onde se depositam (Querido Diário, hoje eu...) impressões, análises e opiniões sobre aquilo que se vive e viveu. A Economist, "revista" mais influente do mundo, gosta de se definir como "journal".

No limite, a missão - e a chance - dos jornais impressos será rever o quotidiano com os olhos da razão. É isso. Rever. Jornais impressos serão revistas.

*CEO da Companhia Brasileira de Multimídia. E-mail: troyjo@jb.com.br

(Gazeta Mercantil/Pág. C8)

5 comentários:

  1. O Jornal impresso sendo substituido pela internet.
    Bem, posso comentar que pessoalmente isso me entristece, se trata de uma opinião bastante pessoal minha, porque é algo que me assusta, não sei será melhor ou pior, sei que as mudanças ocorrem e não podemos lutar contra elas ou a gente se adapta ou se torna uma daquelas pessoas tradicionais ao extremo, que não aceitam nenhum tipo de mudança e vive no passado. De certa forma nem isso dura muito tempo, porque uma hora ou outra todos teremos que aceitar, mesmo não concordando. Pode ter suas milhares de vantagens, este mundo cibernético, a facilidade, o acesso, a velocidade, a econômia, um bem-estar ecologico. Ok, mesmo assim, sinto que também terá suas desvantagens, como tudo na vida, não sei quais serão de fato, mas tenho medo de onde nossos passos podem estar nos levando, tenho medo do efeito coletaral. Sinto que essa busca de facilitar as coisas podem também complicá-las ou tirar a essência. Como as píluas para nunca mais sentir sede, mencionadas no livro "O Pequeno Principe", aquela que nos daria cinquênta e três minutos por semana para fazer outras coisas, então o Pequeno Príncipe diz: "...se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte...". (intertextualidade)
    Como disse, se trata de uma opinião minha, extremamente pessoal, tenho medo de que perca a essência, a magia do passo a passo para chegar ao lugar.
    Isso é o que de fato me assusta.

    s2 Nayelen s2

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  2. Apegados a rituais.. interessante...

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  3. De fato... falo por mim, toda vez que penso no fim do jornal impresso, isso me assusta...Não por causa do jornal impresso apenas, mas tambem pelas outras milhares de coisas que poderão vir depois. Posso estar assustada em vão... Essa tecnologia trouxe VELOCIDADE... Chegará o dia que não poderemos controlar essa velocidade e seremos substituidos por maquinas? Tá isso pode ser viagem minha, exagero da minha parte, mas é o que eu penso.

    Nayelen

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  4. Realmente é duro aceitar o fim do jornal impresso. Porém esse crescimento assustador de publicações digitais na web, o desenvolvimento da internet e a sua popularidade é preocupante.
    Por outro lado não podemos esquecer que jornal impresso é tradição,conforto, para muitos ainda representa a segurança de contéudo e por mais que as telas de computador se evoluam(leves,portáteis, etc) não dá para fazer como o jornal, dobrar e levar para onde quero.
    Acredito que nem mesmo os baixos custos de produção e distribuição nos conteúdos da internet, será suficiente para o fim do jornal impresso.Tem muito trabalho pela frente, não será tão fácil assim.

    Edna

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